terça-feira, 27 de julho de 2010

Ilusão

Amanhã vou ser... ontem era melhor.
Ilusão das ilusões, tudo é ilusão.
A vida ajusta-se no aqui e agora. Ajustar a vida às circunstâncias concretas do momento presente. Afastar a ilusão da visão distorcida que fala de um passado que já não existe. Um passado que não foi melhor que o presente mas, mesmo que tenha sido, já aqui não está. Afastar a ilusão de um futuro em que tudo será melhor, é vender a oportunidade do presente, como se o futuro se fizesse a si mesmo e não tivesse que ser, necessariamente fruto do presente que se assiste. Ajustar a vida ao momento presente tornando-o rico de verdade para que seja fonte da oportunidade do amanhã que não existe ainda, mas que virá irremediavelmente depois deste presente.
Ajustar a vida ao presente para realizar acções inteligentes que não comprometam o futuro nem se prendam irracionalmente ao passado. Ajustar, sem ilusões, a vida real que nos é dado viver.

domingo, 25 de julho de 2010

Comportamento

"O comportamento humano dito normal é apenas uma questão de consenso; ou seja, se muita gente pensa que uma coisa está certa, esta coisa passa a estar certa.
Existem coisas que são governadas pelo bom-senso humano: colocar os botões na frente da camisa é uma questão lógica, já que ficaria muito difícil abotoá-los de lado, e impossível abotoá-los se estivessem nas costas.
Cada ser humano é único, com suas próprias qualidades, instintos, formas de prazer, busca da aventura. Mas a sociedade termina impondo uma maneira coletiva de agir – e as pessoas não param para perguntar o porquê. Apenas aceitam.
É grave querer ser igual, porque isso é forçar a natureza, é ir contra as leis de Deus – que, em todos os bosques e florestas do mundo, não criou uma só folha igual a outra." Paulo Coelho

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Quem sabe o que é uma benção

"O velho chinês conhecia os sinais. Certo dia, o cavalo de seu filho sumiu; todos se entristeceram, menos o pai. “Quem sabe se isto não é uma benção?”, comentou.
Seis meses depois o cavalo voltou, junto com uma bela égua. Todos exultaram, menos o pai, que disse: “quem sabe se isto não é um desastre?”
O filho montou, caiu e quebrou a perna. Todos reclamaram, menos o pai: “quem sabe se isto não é uma benção?”
Uma semana depois, os jovens da cidade foram chamados para lutar contra os mongóis. Todos morreram, O rapaz com a perna quebrada não pode ir – e sobreviveu.
As bênçãos podem ser desastres, e os desastres podem ser bênçãos."Paulo Coelho

terça-feira, 20 de julho de 2010

Invencível

É verdade que não depende de ti o tempo que fará hoje. Não depende de ti se irás ter algum azar. Não depende de ti que alguém te trate mal. Mas depende de ti a atitude com que estejas durante o dia. Depende de ti que estejas ou não estejas centrado no essencial. Depende de ti que não te deixes dominar pelo que os outros dizem ou pensam.
Por isso, não te importes com ventos e tempestades. Não te importes com ladrões e salteadores. Não te importes com insultos e críticas. Tens um lugar em ti onde nada pode entrar. Tens um lugar em ti que ninguém pode conquistar.
Tu és o senhor do teu destino. Tu és o senhor da tua alma. De entre todas as tuas qualidades - nunca te esqueças - é a pequenez que te torna invencível.

domingo, 18 de julho de 2010

O viajante silencioso

O governador e sua comitiva estavam em um trem, quando notaram, no mesmo vagão, um senhor mal-vestido, com os olhos fechados. Alguém resolveu afastá-lo dali, mas o governador impediu; aquela criatura serviria para distraí-los durante a viagem.
Provocaram o homem durante todo o trajeto, com gracejos e humilhações.
Quando chegaram à estação, porém, viram que muita gente viera receber o estranho: tratava-se de um dos mais conhecidos rabinos da América, e seus seguidores tinham ajudado a eleger o governador.
Imediatamente, este se deu conta do erro. Puxando-o para um canto, pediu:
“Perdoa as nossas brincadeiras e abençoa-nos, rabino”.
“Eu posso abençoá-lo, mas não posso perdoá-lo. Naquele trem, eu estava, sem querer, representando todos os homens humildes deste mundo. Para receber o perdão, percorra a terra inteira, e se ajoelhe diante de cada um deles”. Paulo Coelho

sábado, 17 de julho de 2010

Põe-te em forma...

Ok, prometo:
- comer menos, andar mais, saltar um pouco, brincar até cair, fazer natação e ler um pouco.
Bom conselho para cada um ... divirtam-se .

sexta-feira, 16 de julho de 2010

terça-feira, 13 de julho de 2010

A mesma viagem

Fazemos todos a mesma viagem. Vamos dizendo: "eu sou isto... eu sou aquilo... meu pai era... minha mãe foi... tive uma casa em... estava a estudar no... estivemos juntos na uni... acabei com a nota x... viajei por..." mas no fim fazemos todos a mesma viagem. A mesma estrada, os mesmos passos, o mesmo caminho. botas rotas, olhar cansado, desalinho na alma, coração rasgado, mãos gretadas, figado irritado, surdez crónica, visitas inesperadas.
O mesmo caminho e a mesma viagem. Isto pode ser triste... mas também pode ser alegre.

sábado, 10 de julho de 2010

A reflexão

“Nós já dialogamos naturalmente com Deus, através da oração. Rezar é quebrar o silêncio. E a necessidade de reconhecer e ser reconhecido. Rezar é o som criado pelo mais profundo de nossos sentimentos”.

“Eu não estou falando apenas das preces formais que costumamos dizer na igreja ou no quarto, antes de dormir. Eu falo daqueles vestígios, fragmentos de oração que as pessoas usam, mesmo dizendo que não acreditam em nada, sem sequer se darem conta de que estão rezando. Algo inesperado acontece, e as pessoas dizem ‘Meu Deus!’, ou então, ‘Nossa Senhora!’, e ali está uma prece, muitas vezes escondida, proferida com vergonha, medo do ridículo, escondida sob a forma de blasfêmia”.

“A oração é um instinto humano de se abrir naquilo que tem de mais profundo. É impossível evitar este instinto. De uma maneira ou de outra, todas as pessoas rezam e rezaram deste o início dos tempos”.
De Frederick Buechner (The magnificent defeat):

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Um par de razões

Não fazemos nada que não seja motivado por razões exteriores ou interiores que suportam toda a acção. Podem ser razões fúteis ou plenamente fundidas na existência profunda do ser. Mas há sempre razões que determinam todas as coisas. Há coisas e coisas e há razões e razões. Um par de razões fazem falta para sustentar toda a vida, determinando-a num único e mesmo rumo, sem vacilar, consciente de que não há outro caminho nem outro lugar, onde queira estar. Um par de razões que permanecem para sempre como fonte segura que alimenta a decisão. Um par de razões sem refúgio mas claras e certeiras de todas as outras decisões, pensamentos, vontades e sentimentos. Um par de razões que não precisam justificação nem requerem julgamento posterior. Um par de razões que valem por si mesmas. Um par de razões que forjam a vontade e determinam a palavra. Um par de razões que são razão de toda a vida. Por um par de razões se vive para sempre um único e mesmo ideal. Procura-se um par de razões que possa ser razão para toda a vida.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Belo

Em busca desse Lírio de brancura
Que um instante somente em toda a vida
Lhe amaciou d'arminho a sorte dura...

E sua alma, qual folha desprendida
Do seu corpo - arbusto muito fino -
Pelo vento do amor ia perdida,

Naufragando nesse Éter cristalino
Que embalsama o ar do nosso sonho,
Que nos esconde o ideal divino!...

Poema: Teixeira de Pascoaes
Fotografia: Don Paulson

domingo, 4 de julho de 2010

A casa térrea

Que a arte não se torne para ti a compensação daquilo que não soubeste ser
Que não seja transferência nem refúgio
Nem deixes que o poema te adie ou divida: mas que seja
A verdade do teu inteiro estar terrestre

Então construirás a tua casa na planície costeira
A meia distância entre montanha e mar
Construirás - como se diz - a casa térrea -
Construirás a partir do fundamento

Poema: Sophia de Mello Breyner
Fotografia: Dyuti Majumdar

sábado, 3 de julho de 2010

Bom conselho

Põe sempre os nomes aos bois
Nas histórias que contares.
Ou logo os burros depois
Se queixam de os retratares:
"Mas são as minhas orelhas!
Este azurrar é o meu!
Se estas são minhas guedelhas!
Ai este burro sou eu!
Não me nomeie ele embora,
Toda a Pátria vai agora
Saber-me por burro, hin-hã!
Ai que eu, hin-hã, hin-hã!"
- Quiseste a um burro poupar...
Logo doze hão-de zurrar.

Poema: Heine
Fotografia: Simon Jenkins

sexta-feira, 2 de julho de 2010

cerâmica

Os cacos da vida, colados, formam uma estranha xícara.
Sem uso,
ela nos espia do aparador.

Poema: Carlos Drumond de Andrade