quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Sorria


Menino

A folha de árvore
que rola.
A névoa fria
que se evola.

O veio de água
fino e verde.
A cantilena
Que se perde.

O cão vadio
que nos olha
e nos entende...

A isto o menino,
sério, atende
ao ir prà escola.

Poema: Saul Dias

QUAL É O TEU TORMENTO

A propósito do Lázaro e da compaixão deixo aqui as palavras de Simon Weil:
"Não é apenas o amor de Deus que tem por substância a atenção. O amor ao próximo, que sabemos ser o mesmo amor, é feito da mesma substância. Os infelizes não precisam de outra coisa neste mundo que de homens capazes de lhes prestarem atenção. A capacidade de prestar atenção a um infeliz é coisa muito rara, muito difícil; é quase milagre; é um milagre. Quase todos os que crêem ter esta capacidade não a têm. O calor, o ímpeto do coração, a piedade não são suficientes.
A plenitude do amor ao próximo é simplesmente ser capaz de lhe perguntar: "Qual é o teu tormento?". É saber que o infeliz existe, não como unidade numa colecção, não como um exemplar da categoria social etiquetada "infelizes", mas enquanto homem exactamente semelhante a nós, que foi um dia atingido e marcado com uma marca inimitável pela infelicidade. Para isso é suficiente, mas indispensável, saber pousar sobre ele um certo olhar".

(Simon Weil. Espera de Deus, Assírio & Alvim)

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Os Amigos

«Os amigos amei
despido de ternura
fatigada;
uns iam, outros vinham,
a nenhum perguntava
porque partia,
porque ficava;
era pouco o que tinha,
pouco o que dava,
mas também só queria
partilhar
a sede de alegria —
por mais amarga.»

Eugénio de Andrade, in "Coração do Dia"

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Pensamento diário

Se queres ser feliz...

Muitas pessoas não gostam do que fazem. Simplesmente continuam a fazer o que fazem. Vivem à espera do fim-de-semana ou à espera das férias. Mas as próximas férias vêm demasiado longe. E não se pode viver assim. Felizmente, é possível mudar.

Se queres ser feliz, tens que fazer a tua parte. Neste arranque de ano proponho que te faças três perguntas: “de que me devo libertar? O que devo continuar? O que devo começar?”.

Talvez tenhas que mudar de trabalho, de curso, de cidade. Talvez tenhas que mudar o estilo de vida ou o espírito com que te relacionas com alguém. Mas há, com certeza, algo que deves largar, algo que deves continuar, algo que deves começar.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Não te ofenderei


Não te ofenderei com poemas
Param os meus olhos quando penso em ti
Não farei do meu remorso um canto
Com árvores e céus mas sem poemas
Demasiado humano para poder ser dito
O teu mundo era simples e difícil
Quotidiano e límpido

Poema: Sofia de Mello Breyner
Arte Nova: René Lalique

terça-feira, 21 de setembro de 2010

"vive como as flores"

Num antigo mosteiro budista, um jovem monge questiona o mestre.
"Mestre, como faço para não me aborrecer?
Algumas pessoas falam demais, outras são ignorantes.
Algumas são indiferentes.
Sinto ódio das que são mentirosas.
Sofro com as que caluniam".
- "Pois viva como as flores!", advertiu o mestre.
- "Como é viver como as flores?" - perguntou o discípulo.
- "Repare nestas flores", continuou o mestre, apontando lírios que cresciam no jardim.
- "Elas nascem no esterco, entretanto são puras e perfumadas. Extraem do adubo malcheiroso tudo o que lhes é útil e saudável, mas não permitem que o azedume da terra manche o odor das suas pétalas. É justo angustiar-se com as próprias culpas, mas não é sábio permitir que os vícios dos outros o importunem. Os defeitos deles são deles e não são seus. Se não são seus, não há razão para aborrecimento. Exercite, pois, a virtude de rejeitar todo o mal que vem de fora. Isso é viver como as flores!"

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Vou tentar outra vez


E assim começamos a semana...
Uma boa semana para todos!
Temos de nos apaixonar todos outra vez!

sábado, 18 de setembro de 2010

Autentico

Já não sei onde, mas sei que passei os olhos por esta frase algures "Deixa de ser amável e sê autêntico". À primeira vista não me soou bem, mas depois de reflectir dei-me conta de que, todos procuramos pessoas simpáticas, atenciosas e amáveis e esquecemos tanto procurar as pessoas autênticas que muitas vezes têm dificuldade em ser amáveis, simpáticas, atenciosas e delicadas. Tantas vezes nos deliciamos com a amabilidade e nos sentimos importantes por estarmos rodeados de atenções e delicadezas que esquecemos o quanto essas atitudes escondem a falsidade. De facto também nós somos tantas vezes amáveis com as pessoas, não por lhes querermos bem ou entendermos que é uma atitude correcta, mas por parecer bem. Não se trata esta pessoa nesta circunstância e neste lugar desta ou daquela maneira. Mas, interiormente o coração está longe da aparência de amabilidade e cortesia que demonstramos. Então, percebi que está na hora de deixar a hipocrisia a acolher a autenticidade nua e crua, mesmo que embrulhada em aparência pouco simpática em vez de buscar as amabilidades repletas de hipocrisia. Está na hora de olhar para dentro e procurarmos em nós a autenticidade e, se possível, continuarmos a ser amáveis, atenciosos e simpáticos.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Chamo-Te

Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido.
Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só de Teus olhares me purifique e acabe.
Há muitas coisas que não quero ver.
Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o Teu reino antes do tempo venha
E se derrame sobre a Terra
Em Primavera feroz precipitado.
Sophia de Mello Breyner Andresen

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Da prudência

"Não tome decisões quando estiver zangado. Não faça promessas quando você está feliz."

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O silêncio serve para alguma coisa?

Dois amigos encontraram-se. Ficaram horas a conversar diante de uma paisagem maravilhosa. A dada altura calaram-se os dois. E ficaram assim, em silêncio.

Mas um preferiu interromper. Disse: “Sabes? É mesmo bom ter um amigo assim… um amigo com quem se pode…“ - e preparava-se para acrescentar: “com quem se pode ter uma boa conversa” – mas o outro atalhou: “…um amigo com quem se pode ficar em silêncio!”. Ele sorriu: “Sim, é isso: um amigo com quem se pode ficar em silêncio” repetiu para dentro.


E pensou: “de facto, por vezes não há nada para dizer. E não é que aquilo que se experimenta seja pobre. São as palavras que são pobres. E muitas vezes estão a mais”.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Abraço


Dois amigos contemplavam um lago a perder de vista. À volta, montes e vales, céu em tons de azul, nuvens brancas a passar. Uma paisagem deslumbrante. Pacificadora.
Um deles - sorriso nos lábios e olhos a brilhar - decidiu abrir o coração: "Acho que o Céu… o Céu deve ser mais ou menos isto".
"Não” - respondeu o outro. “Eu acho que o Céu” – disse envolvendo o amigo num abraço – “deve ser mais ou menos isto"

sábado, 11 de setembro de 2010

O paraíso precisa de estar cheio

"Um guerreiro da luz compartilha com os outros o que sabe do caminho. Quem ajuda, sempre é ajudado. Precisa ensinar o que aprendeu. Senta-se ao redor da fogueira e conta como foi o seu dia de luta.
Um amigo sussurra: “Por que falar tão abertamente de sua estratégia? Não vê que, agindo assim, corre o risco de ter que dividir suas conquistas com os outros?”.
O guerreiro apenas sorri, e não responde. Sabe que, se chegar ao final da jornada num paraíso vazio, sua luta não terá valido a pena. " Paulo Coelho

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O meu mundo

Recentemente a BBC convidou a sua audiência a produzir e enviar um curto docmentário no âmbito de um concurso designado "O Meu Mundo". Recebeu mais de meio milhar de contributos. O júri, depois de analisar os trabalhos, seleccionou como vencedor o documentário do espanhol Frederico Teixeira de Sampayo, intitulado "Wash, Rinse and Spin" ["Lavar, enxaguar e centrifugar"]. Aqui está:


quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Bengala

Quando a angústia, a preocupação ou a incerteza me batem à porta não lhes abro a porta. Como a todos, elas também gostam de me visitar. Às vezes batem de leve, outras vezes batem com violência, outras insistem um pouco, outras parece que não querem largar a porta mais parece quererem arrombá-la. Mas eu, na minha teimosia, não lhes abro a porta. Não porque seja melhor que os outros, mas porque não aconteceu e entendo que tenho feito bem. Às vezes a casa treme, os vidros parecem querer estoirar, o telhado vê-se ameaçado, a chaminé silva como em dia de ventania. Às vezes dá vontade de abrir a porta e fugir para longe para não ter que viver debaixo do mesmo tecto que elas. Mas não! Não fujo e não abro a porta. Depois, percebo sempre que valeu a pena. Deus manda-me uma visita suave, prestável, disponível, como uma bengala para que me apoie na fragilidade deixada pela ventania da angústia que queria entrar, da preocupação que queria instalar-se, da incerteza que queria dominar. Pode ficar a fragilidade mas não fica nenhuma delas em mim porque não lhes abro a porta. Deus manda-me sempre uma bengala para apoiar essa fragilidade.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

domingo, 5 de setembro de 2010

É horrível

Quando o outro se magoa sem o teres magoado.
É verdade que no jogo da vida é tão fácil magoar os outros. Magoar sem querer. Magoar os que não queremos. Magoar... Mas quando as pessoas já se magoam sem razão. Por tudo e por nada e nos atribuem as culpas.... UFF
É de fugir.
E nem sempre há calma suficiente para vencer isto.
Quando estás calmo e metido na tua vida e o outro começa a dizer que estás irritado sem estares e começa a irritar-te com a ideia de que estás irritado sem estares, tens que fugir para não te irritares de verdade.
Meu Deus... será o calor? Será o All?
Seja lá o que for... vou-me despentear...

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Migalhas


O que devia ser abundante acaba em migalhas. Com tanto que pode ser dado ficamo-nos pelas migalhas. Diante da riqueza não somos capazes de repartir às mãos cheias, perdemo-nos em migalhas mal repartidas. O que não se compra não se vende. O que não se paga não pode ser cobrado. O que não nos pertence não pode ser regateado. Na ganância de viver nem sequer aproveitamos o que damos às migalhas, com medo que o não mereça quem estende as mãos. Com medo que seja demais o que se oferece. Com medo que me perca no dar. Com medo de que a vida possa ser bonita e feliz no repartir? Com tanto que há, com tanto que temos, não sabemos repartir. Migalhas de amor. Sim! Migalhas de amor. Migalhas de amor que repartimos e com que nos contentamos quando no-las repartem porque não sabemos o que fazer ao amor. Não temos medo que acabe, não temos pena de o dar, não há outra razão para nos ficcarmos em migalha, senão o facto de não sabermos o que lhe fazer. Que fazer ao amor que todos temos? Que fazer ao amor? Reduzi-lo a migalhas é que não me parece bem. A migalha: daquele olhar, daquele gesto, daquela palavra, daquele momento, da resposta, da presença... migalhas com que me satisfaço... migalhas com que nos satisfazemos. Migalhas...

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Perguntas

Como se pode viver sem responder às perguntas que se levantam dentro de nós? Esta pergunta, assim formulada, não é minha mas o seu conteúdo tem todo o sentido e poderia muito bem ter sido eu a fazê-la. De algum modo tenho-a feito de outras formas. Realmente como é possível viver sem responder? Fico a pensar se será possível viver sem perceber as perguntas que se formulam dentro de nós? Talvez fosse a única hipótese de alguém poder viver realmente sem precisar de responder a estas perguntas existenciais que se vão formulando em nós. Mas percebi que pode haver também que viva de tal modo alienado da vida que não precisa de perguntas nem de respostas para viver. Vive no meio das suas drogas e isso lhe basta. Pode também acontecer que alguém se distraia com a loucura que a própria vida proporciona para fugir das perguntas e não ter que lhes responder. Em todo o caso o que eu quero aqui dizer é que não vive quem não enfrenta as perguntas e não se decide a dar-lhes resposta. São perguntas tão essenciais como as escolhas, as opções, as decisões. São perguntas que fazem a diferença entre viver e andar ao acaso. Tão fundamentais para não andar à deriva mas ter um rumo certo. É a diferença entre o saber e o não saber, o querer e o não querer nada, entre o ir e o nunca partir